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DOSSIÊ - TEXTO QUATRO(04)!

Dossiê – texto 04 – Professor José Jorge – EJA – CG – noturno
OS DRIBLES DO PASQUIM
Autor: Severino Francisco – “Crônica da Cidade” - Correio Braziliense de 14/04/2014 – pag. 22.

                O Pasquim aliviou nossa barra durante o sufoco da ditadura de 1964. As balas e bombas de efeito hilariante disparadas por aquela turma de guerrilheiros do humor fizeram mais estragos no regime de exceção do que qualquer tiro de fuzil. Na virada dois anos 1970, todas as semanas eu ia até a banca da Rodoviária para comprar o Pasquim. Era um prazer indizível esperar a surpresa que o jornaleco desabusado trazia, muitas vezes, em linguagem cifrada, mas perfeitamente decodificável por nós, leitores-cúmplices: “Quem tem jornal tem medo”.
                No fim da ditadura, o general João Baptista Figueiredo, o último dos presidentes impostos pelo regime militar, provocou polêmicas ao afirmar, perto da baia de cavalos que tanto apreciava: “Prefiro cheiro de cavalo a cheiro de povo”. Três dias depois, o Pasquim estampava uma enorme foto de Sua Excelência ao lado de um dos animais com a seguinte legenda: “Figueiredo e o cavalo. O cavalo é o da direita”.
                Nos tempos em que lecionava em uma faculdade, evoquei o episódio para ilustrar o argumento de que o regime militar liquidou com a guerrilha em seis meses, mas não conseguiu exterminar o humor libertário do Pasquim. Todos se divertiram muito com a blague, menos um rapaz sério e educado. Ele levantou o braço e pediu a palavra: “Professor, eu sou sobrinho do general Figueiredo”. Fiquei paralisado de constrangimento, mas ele acrescentou: “Foi bom tocar no assunto, pois a minha família sempre tenta desfazer o equívoco dessa frase”. A turma era gaiata e rechaçou as alegações do colega com muita verve. Me animei a ponderar ao aluno que o tio dele certamente era uma boa gente, mas nos inspirava muito receio, tanto que, na época, repetíamos um refrão: “Quem tem jornal tem medo, estamos com Figueiredo”.
                O Pasquim nos salvou da ditadura com dribles desconcertantes na prepotência. Ele foi uma escola de humor, de liberdade, de inteligência e de imaginação. Tinha tudo para não dar certo, mas, quando você junta muita gente talentosa no mesmo espaço, provoca uma química explosiva e imprevisível. A subserviência ianque de Paulo Freire me exasperava, mas a sua soberba era muito divertida quando vinha embalada pela ironia: “Atenção, massas, riam, isso é uma piada”. O Pasquim nos ensinou a rir da ridicularia dos outros e da nossa própria.
                O melhor documentário sobre o jornal foi realizado em Brasília pela TV Câmara, sob o título A Subversão do humor, com direção de Roberto Stefanelli. Lá é possível apreciar deliciosas histórias dos jornalistas boêmios que realizaram, sem saber, uma pequena revolução na imprensa.
                Sem pretender roubar a surpresa de assistir ao documentário, não resisto á tentação de adiantar uma história. Paulo Francis foi convocado para um interrogatório em um quartel. Um coronel acusava o polêmico e irascível jornalista de ter supostamente assinado uma “monção” de protesto contra a prisão arbitrária do dono da Editora Civilização Brasileira, o editor Ênio da Silveira. Francis negou veementemente. Mas o general se irritou, argumentando que tinha uma cópia do documento com a assinatura de Francis. Ao que o jornalista replicou com o célebre ar superior sobre o restante da humanidade:
 “Coronel, eu não assinei nenhuma monção: monção é um fenômeno atmosférico. O que assinei foi uma moção de protesto contra a prisão do meu amigo Ênio da Silveira”.

Atividade: Assista o vídeo Subversão do humor, com direção de Roberto Stefanelli no meu Blog ou no Youtube.; pesquise o significado das palavras e frases abaixo relacionadas. Reescreva o texto, substituindo por sinônimos, as palavras abaixo relacionadas:

HILARIANTE – REGIME DE EXCEÇÃO – PASQUIM – DECODIFICÁVEL – EVOCAR – BLAGUE – GAIATA – VERVE – PONDERAR – PREPOTÊNCIA – SUBSERVIÊNCIA – IANQUE –– IRONIA – SUBVERSÃO – IRASCÍVEL – ARBITRÁRIA – VEEMENTEMENTE – CÉLEBRE – MOÇÃO.

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