DOSSIÊ DE HISTÓRIA – TEXTO
01 – 22fevereiro2017 – SEGUNDO
ANO
“ESCOLA SEM
PARTIDO” OU ESCOLA SEM DIREITOS HUMANOS?
(Daniel
Sarmento – Professor titular de direito constitucional da UERJ, advogado e
conselheiro do instituto UNICEUB de Cidadania (IUC).
Vivemos em uma sociedade marcada pela
exclusão, que é opressiva em relação a grupos como negros, mulheres,
homossexuais, pessoas com deficiência e minorias religiosas. É muito difícil
combater essa injustiça, por que ela não se limita à prática pontual e episódica
de atos reprováveis por “pessoas más”. Pelo contrário, tal patologia tem
caráter estrutural, pois impregnam a cultura e a mentalidade dos brasileiros.
Por isso, muito mais do que a opinião, o remédio eficaz para o combate desse grave
problema é a educação. Uma educação que forme pessoas mais abertas e
solidárias, que respeite e sinta empatia pelo outro, capazes de enxergar
igualdade em meio ás diferenças.
A educação não serve apenas para
fornecer conhecimento formal aos estudantes ou para prepará-los para o ingresso no mercado de trabalho - embora
também deva desempenhar essas importantíssimas funções. Mais do que isso, ela
tem o papel fundamental de promover “o pleno desenvolvimento da pessoa”, bem
como o seu “preparo para o exercício da cidadania”. Quem disse essas palavras
não foi Paulo Freire, tão detestado pelos reacionários do passado e do
presente, ou qualquer outro educador. Foi a Constituição Federal, no artigo
206.
Daí o absurdo do movimento que se
autointitula “Escola sem Partido” o qual vem ganhando corpo no país. Esse
movimento patrocina projetos de lei no Congresso Nacional e Câmara de
vereadores, que visam, acima de tudo, a impedir que se promova na escola uma
cosmovisão, especialmente nos campos da identidade sexual e da igualdade de
gênero A luta é para manter a todo custo o preconceito enraizado na sociedade,
cortando pela raiz o risco de mudanças nos corações e mentes de nossas crianças
e jovens.
Nessa linha, o Projeto de Lei nº
867/2015, em trâmite na Câmara dos Deputados, deseja proibir “a veiculação de
conteúdos ou a realização de atividades, que possam estar em conflito com as
convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes”
(art. 3° parágrafo 1º). Se os pais cultivam ideias e valores preceituosos ou
até fascistas - parece dizer o projeto – então é direito deles que seus filhos
sigam a mesma linha. Se, para esses pais, cassais gays são uma abominação,
“bandido bom é bandido morto” e mulheres sexualmente livres merecem ser
estupradas, não cabe á escola promover valores mais democráticos, mas endossar
aqueles professados pelas famílias, ou, no máximo, manter-se em silêncio
obsequioso diante da barbárie.
Não bastasse o movimento ¨Escola sem
Partido¨, sob o pretexto de combater a doutrinação ideológica em sala de aula, propõe também a instituição da mordaça
para os professores, cerceando o direito de imprimirem um tom mais crítico ás
lições. Isso, evidentemente fere de morte a liberdade de cátedra, que é
garantida constitucionalmente (art. 206, inciso II, Constituição). E as
restrições propostas são tão vagas e genéricas que, se aprovadas, nenhum
professor se sentirá seguro para ministrar as suas aulas em paz.
O ¨Escola sem Partido¨ incorre em dois
equívocos conceituais, quando afirma lutar pela neutralidade política e
ideológica no campo educacional. Em primeiro lugar, professores são pessoas e
não robôs, e por isso naturalmente projetam suas crenças e valores nas
respectivas atividades pedagógicas. O fenômeno é inevitável e não pode ser
criminalizado. Em segundo lugar, no Brasil, o sistema de ensino não deve ser
neutro nas questões que incomodam a
turma do ¨Escola sem Partido¨. Pelo contrário, em temas atinentes à
igualdade e ao respeito à diversidade, o dever dos educadores e das instituições
de ensino devem é de tomarem um claro partido: a defesa da inclusão social e
dos direitos humanos, nos termos da Constituição.
Em suma, ¨Escola sem Partido¨ é uma
designação enganosa. O nome, espertamente escolhido, pode atrair a simpatia de
alguns incautos, pois afinal nenhuma pessoa com bom senso é favorável à
partidarização das escolas. Porém, o que tal movimento realmente deseja é uma
¨escola sem diversidade¨, uma ¨escola sem crítica¨. Quem sabe até com a volta
da palmatória, sem personagens negros ou indígenas nos livros didáticos de
História e com o estudo de Adão e Eva em vez da teoria da seleção natural nas
aulas de Ciências. Felizmente, no meio do caminho há uma Constituição.
(publicado no Correio Braziliense de julho de 2016, pag. 11).
ATIVIDADES
DO TEXTO 01
1.
Faça uma biografia de Josué de castro.
2.
Qual o livro mais importante de Josué de
Castro e qual o tema central do livro?
3.
Porque Josué de Castro era chamado de
“Cidadão do mundo”?
4.
Segundo o texto, quais grupos sociais
são excluídos da sociedade e qual o remédio para combater a exclusão?
5.
Que tipo de educação o texto sugere?
6.
O que o movimento ¨Escola sem Partido¨
pretende que a escola promova?
7.
O que significa, segundo o texto,
¨amordaçar o professor¨?
8.
Em quais equívocos o movimento ¨Escola
sem Partido¨ incorre, segundo o autor do texto?
9.
Ainda segundo o texto, qual o dever dos
educadores e das instituições de ensino?
10.
Para
que serve a educação, de acordo com o texto?
11.
Pesquise o significado das palavras e
conceitos abaixo:
·
Exclusão
·
Mentalidade
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Cidadania
·
Cosmovisão
·
Igualdade
de gênero
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Identidade
sexual
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Convicções
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Endossar
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Cercear
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Restrições
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Ministrar
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Conceituais
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Atinentes
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Inclusão
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Diversidade
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Teoria da seleção natural.
·
Igualdade de gênero
·
Identidade sexual
·
República.
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