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DOSSIÊ DE HISTÓRIA – TEXTO CINCO (05) – TERCEIRO ANO (3° ANO)

DOSSIÊ DE HISTÓRIA – TEXTO CINCO (05) – TERCEIRO ANO (3° ANO)
03 DE OUTUBRO DE 2017
É Proibido proibir.
(Renato Maia Guimarães – Presidente da Academia de Medicina de Brasília – Publicado no Correio Braziliense – 23set2017 – pág. 11

Na revolta estudantil de Paris, em 1968, o slogan “É proibido proibir” ficou gravado na memória. Os jovens queriam papel mais destacado na sociedade; clamavam por uma nova cultura que o momento impunha. Transcorrido cinco décadas daqueles dias de sonho coletivo e barulho, os jovens de então envelheceram, mas o slogan está mais vivo do que nunca. Serve agora ao relacionamento entre filhos e pais mais velhos, quem sabe amantes dos Beatles e Rolling Stones.
Por carinho excessivo ou desconhecimento, filhos tendem a estabelecer um conjunto de regras para seus pais, que beiram proibições. A mãe não deve ir à cozinha sozinha, pois já trabalhou muito; negar ao pai, aos 90, beber a caipirinha que sempre antecedeu ao almoço, que, talvez, tenha contribuído para sua longevidade. Não seria um doce cárcere privado, proibir o velho de sair de casa, algumas vezes do próprio quarto? Qual a justificativa científica de dizer não a quem, aos 80 anos, quer saborear um ovo com gosto de “toda vida” ou um toucinho, marca registrada da infância em Minas? Se culparem o colesterol, podem estar errados, pois, nessa fase da vida o mal já foi feito. Essa gordura, assim como o mordomo dos livros de Agatha Christie, é a eterna suspeita. O estoque de limitações absurdas é grande, as consequências, nefastas.
O maior indicador de saúde na velhice não são os sintomas de uma doença que tenha predileção por cabeças brancas, mas a autonomia. A preservação da possibilidade de dizer sim ou não, vou ou não vou, quero ou não quero, ou ainda escolher a própria roupa. Os leitores estão exercendo sua autonomia ao lerem estas palavras, uma vez que optaram por fazê-lo. Abolir o direito de escolha constitui grave ameaça ao bem-estar. A discussão pode ser levada a limites extremos, como a determinação de encerrar a vida; a conversa de hoje não chega a tanto. A abolição da autonomia contribui para a sensação de inutilidade e a imposição de tristeza.
É evidente que nãos e pode permitir que a mãe com artrose nos joelhos, continue subindo escadas para limpar estantes superiores; tampouco concordar que o pai confuso continue dirigindo o carro e cumprimentando os meios-fios. São situações em que o risco de acidentes é elevado. Por outro lado, proibir a mãe, que passou a vida toda cuidando da casa, de enxugar pratos, pertence ao campo da insensatez inibir o comparecimento às reuniões familiares, mesmo em outras cidades, com o nobre argumento “faz mal à saúde”, é considerar saudável ficar trancado numa sala assistindo á televisão ou restrito ao quarto, olhando para o teto.
Existe pouca ou nenhuma informação científica sobre tratamentos que possam realmente contribuir para qualidade de vida e longevidade após os 70 anos, exceto a reposição de hormônios e similares, e analgésicos que aliviem dores do corpo e da alma. Algumas exceções são bem vindas.
Como o idoso tende a presentar sintomas vaiados, costuma ser levado a diferentes especialistas, o que resulta numa lista de medicamentos complexa que só uma tabela elaborada no Excel comporta. O benefício é discutível, as complicações da multimedicação são evidentes; atendem pelo nome de iatrogenia. A conduta de proibir, por um lado, e liberar, por outro, como impor o uso de vários medicamentos (por vezes inúteis), é usual em alguns filhos, para os quais trazer de Miami frascos enormes de vitaminas é pura expressão de carinho.
Mesmo quando medicamentos estão ausentes, a iatrogenia da palavra, exemplificada por conselhos equivocados e omissões como “nada por ser feito” ou ainda indicar cadeira de rodas sem considerar a possibilidade da recuperação da marcha. A maior de todas: “não deixar de usar esse medicamento durante toda a vida”. São formas de proibições, seja para alternativas de cuidado para o doente com moléstia incurável, proibir o benefício da reabilitação ou ainda de o paciente se livrar de medicamento que está lhe fazendo mal ou não proporcionando qualquer benefício.
Proibições mais sutis estão relacionadas ao não reconhecimento da velhice e da possibilidade de morte. Os sexagenários não têm ingresso garantido na melhor idade; cada um tem um período melhor de vida, que pode ocorrer na infância, na adolescência ou na vida adulta. Envelhecer, contudo, não deve ser considerado como um passaporte para o infortúnio ou mal-estar, tampouco é convite irrecusável par a felicidade tardia. Não se pode proibir a existência da velhice que, por vezes se apresenta com penduricalhos desagradáveis. O não reconhecimento implica tratamento infantil sobre a forma de diminutivos, tais como joelhinho, cabecinha e comidinha. A infantilização indevida arranha a dignidade dos mais velhos. A proibição de falar sobre morte cria um ambiente de farsa, no qual familiares pensam proteger e o enfermo sabe que está sendo enganado.
No momento em que a vida me tornou um médico transgressor, proponho medalha de bronze para quem recusar a dose de um remédio com o qual não se sinta bem. A medalha de pratas será concedida para quem recusar tratamento medicamentoso para situações sabidamente fora de condições terapêuticas. Ouro para quem fugir do hospital, situação que teria ocorrido com Darcy Ribeiro.
Não existe vida certa, cada um que decida seu caminho e implemente suas escolhas. Esta deve ser uma opção para o jovem e para o adulto, mas não é proibida para os mais velhos. O parâmetro deve ser qualidade de vida, não a tentativa de prolongar o tempo de quem nem sempre quer mais tempo. Qualidade de vida é um conceito amplo que envolve, principalmente, socialização, espiritualidade e liberdade. As proibições não estão na lista. Não é papel dos filhos impor limitações. A maioria não adiciona nenhuma semana á existência. Não seria caso de se perguntar ao velho se ele quer vier uma semana a mais vivendo uma vida de menos?

Tarefas do texto:
1. O que foi a Revolta estudantil de Paris, em 1968?
2.o que foi o movimento musical "Tropicalismo" e qual o significado do slogan "É proibido proibir"?
3. Quem foi Darcy Ribeiro?
4. Faça uma pequena biografia das bandas Beatles e Rolling Stones.
5. Pesquise os sinônimos e/ou conceitos das palavras abaixo.

1.       Clamar.
2.       Impor.
3.       Longevidade.
4.       Colesterol.
5.       Nefastas.
6.       Autonomia.
7.       Abolição.
8.       Artrose.
9.       Insensatez.
10.     Inibir.
11.    Restrito.
12.    Hormônios.
13.    Iatrogenia.
14.    Infância
15.    Adolescência
16.    Reabilitação
17.    Miami.
18.    Sutis.
19.    Sexagenários.
20.    Infortúnio.
21.    Penduricalhos.
22.    Infantilização.
23.    Enfermo.
24.    Transgressor.
25.    Terapêuticas.
26.    Implementar.

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