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DOSSIÊ DE HISTÓRIA - SEGUNDO SEMESTRE 2018 - TEXTO 01 - TERCEIROS ANOS.


MILITARES E CIVIS NA POLÍTICA BRASILEIRA. - texto 01 - terceiro ano
Marco Antônio Villa é historiador.
 Publicado no Correio Braziliense de 06junho2018 – página 07.

            Em um país sem memória, não custa recordar como se desenvolveu o processo de formação da República, especialmente em um momento tão confuso, como vivemos, e marcado novamente pelo canto de sereia de uma intervenção militar.
            A ideia republicana, desde o final do século 18, esteve presente nas rebeliões anticoloniais, mesmo que de forma difusa. Com a independência e a manutenção do regime monárquico – diversamente do corrido na América espanhola, onde todos os novos Estados adotaram o regime republicano -, a defesa da República esteve sempre associada aos movimentos democráticos que abalaram o período regencial e o início do Segundo Reinado.
            A partir de 1860, com o surto cafeeiro e o rápido crescimento econômico do
Sudeste, o republicanismo transferiu-se para a região. Uma fração da elite regional passou a sustentar a necessidade de uma nova organização política que possibilitasse um controle direto do Estado e uma reordenação nas relações entre as províncias e o governo central. Em 1870, a três de dezembro, oito meses após o final da Guerra do Paraguai, foi publicado o “Manifesto Republicano” tendo em Quintino Bocaiúva seu principal redator. Na conclusão do manifesto, os republicanos acentuaram que a permanência da monarquia os excluía do convívio com as nações latino-americanas e era a principal razão das guerras com os países limítrofes. A República retiraria o Brasil do isolamento político, não só na América como no mundo.
            A propaganda republicana poucos adeptos obteve entre 1870 e 1888. Os republicanos possuíam alguma influência entre estudantes, jovens oficiais do Exército e nas áreas cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais, onde cresciam politicamente identificados com a manutenção da escravidão. Raul Pompéia, republicano radical, resumia o conservadorismo dos correligionários paulistas: “Vosso barrete frígio é um saco de café”. Já Quintino Bocaiuva, líder republicano mais influente durante o período da propaganda, pensava o oposto. Considerava que o importante para o movimento era a ampliação da sua influência política mais do que ficar preso a princípios doutrinários. Um exemplo foi o seu posicionamento, em 1871, criticando a Lei do Ventre Livre: criar novas relações jurídicas entre o escravo e o senhor; agitar águas que há muito tempo estão turvas, promover o espírito de sedição por parte do escravo e o espírito de revolta por parte do senhor, eis entre outras quais sejam, as consequências desse monstruoso projeto”.
            A escassa popularidade do republicanismo será compensada pela influência entre os jovens oficiais na Escola Militar do Rio de Janeiro. O exército saiu fortalecido enquanto instituição após a Guerra do Paraguai. A longa duração do conflito, a convivência com os militares dos países platinos que exerciam funções políticas – quando não chegavam a ocupar a chefia do Estado – e o estabelecimento de um espírito de corpo entre a oficialidade, transformaram o Exército em mais um ator da cena política.
A maioria dos oficiais provinha das classes populares, sequiosos de ascensão social, mas vivendo com baixos soldos. Mesmo a alta oficialidade, apesar de alguns terem sido nobilitados pelo imperador, sobrevivia com parcos recursos. Restava a valorização social e política, mas a estrutura de poder do Império prescindia da participação dos militares na esfera política. Ao próprio d. Pedro 2º era imputado desprezo às atividades militares, não tinha Casa Militar e que a maioria dos ministros da Guerra e da Armada (como era chamada a Marinha durante o Império) eram civis; inclusive durante a Guerra do Paraguai. A insatisfação dos militares foi crescendo ao longo dos anos. Em 1889 os seus principais líderes tinham lutado na Guerra do Paraguai.
No golpe militar de 15 de novembro, a lembrança da guerra ressurge. Floriano Peixoto comandava as tropas legalistas quando foi objetado pelo primeiro-ministro Visconde de Ouro Preto a atacar, como teria feito diversas vezes na Guerra do Paraguai, a artilharia rebelde que cercava o ministério no Campo de Santana. Negou-se a obedecer a ordem, alegando que no Paraguai combatera estrangeiros, enquanto naquele momento todos eram brasileiros. Momentos depois, Deodoro da Fonseca, entrou no quartel-general e dirigiu-se à sala onde estava reunido o gabinete. Lá fez questão de recordar ao primeiro-ministro o desprezo que, segundo ele, os governos civis tinham pelos militares e que na Guerra do Paraguai chegou a passar três dias e três noites combatendo no meio de um pântano. Inesperada foi a resposta do Visconde: “Não é só no campo de batalha que se serve à pátria e por ela se fazem sacrifícios. Estar aqui ouvindo o general, neste momento, não é somenos a passar alguns dias e noites num pantanal.” Se a história se repete (será?), estamos próximos novamente ao conflito entre os militares e os casacas (civis)?

ATIVIDADES DO TEXTO

1.Conceitos  2. Sinônimos. 3. Biografias. 4.Interpretação do texto.

·         Atividades  01 e 02 (conceitos e sinônimos).


1.      Canto de sereia.
2.      Intervenção militar.
3.      Regime monárquico.
4.      Regime republicano.
5.      República.
6.      Período regencial.
7.      Segundo Reinado.
8.      Províncias.
9.      Guerra do Paraguai.
10.  Latino-Americano.
11.  Barrete frígio
12.  Princípios doutrinários.
13.  Instituição
14.  Ascensão social
15.  Prescindir.
16.  Nobilitados,
17.  Imputar.
18.  Somenos.
19.  Ideologia.
20.  Globalização
21.  Idade média.

·         Atividade  03 (biografias).

1. Floriano Peixoto.
2. Deodoro da Fonseca.
3. Quintino Bocaiúva
4. Raul Pompéia.
5. Lima Barreto.
6. Elon Musk.

·         Atividade 04. (Interpretação do texto) - Com base no texto, responda as questões abaixo.

1. Desde quando e onde, no Brasil, esteve presente a ideia republicana, e a que estava associada   a defesa da república?
2. Como o manifesto republicano, em sua conclusão, via o império em relação aos vizinhos do Brasil e o que a república traria?
3. Quando se dá o fortalecimento do exército enquanto e instituição e qual o papel da Guerra do Paraguai para que esse fortalecimento acontecesse?

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