ÁFRICA: MIL CULTURAS EM UM SÓ
CONTINENTE
Fonte: Leituras
da História nº 77 –Texto: África, um
continente em quarentena.
Historiadores e cientistas políticos
sentem dificuldades de explicar porque vários países africanos, mesmo depois de
mais de um século da independência, ainda vivem em um estado de
subdesenvolvimento, com áreas de extrema pobreza, sujeitos a epidemias e guerras
civis.
Não é possível generalizar e dar
uma única resposta para todos, mas uma das principais características da África
são as diferenças culturais, étnicas, religiosas e políticas entre seus países.
“Há mais diversidade cultural e genética na África do que em todo resto do
mundo”. O Ocidente, no entanto tende a fazer uma homogeneização reducionista e
preconceituosa com relação à África e aos africanos. As ideias sobre o
continente ainda são generalistas como “A África é selvagem, desolada pela fome,
guerras e doenças”, diz Juliana Monzani, professora do curso de história da
universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo.
Esse posicionamento, de acordo
com a professora, vem do Império Romano, estabelecido pela frase em latim ibi
sunt leones (Lá há leões) usada para indicar regiões inexploradas no
mapa. E tais concepções foram reforçadas pelo romantismo e pelas teorias
raciais do século 19. Entretanto, ainda que esses questionamentos sejam
pertinentes, essa postura só reforça preconceitos e estereótipos, enfatiza
Juliana Monzani.
Mas não há como negar que as
questões étnicas e religiosas no continente africano, de uma forma geral, são
as causas de conflitos armados. Estes, por sua vez, facilitam a instalação de
mais fome e epidemia, em um ciclo vicioso perverso sem fim.
Tais conflitos são, em grande
parte, causados ou aprofundados pela presença dos colonizadores em território
africano no século 19. Em 1885, ano da conferência de Berlim, os governantes
europeus se reuniram para estabelecer o que ficou conhecido como partilha da
África. “A divisão de terras gerou a criação de países arbitrários, sem nenhum
governante africano na conferência para opinar. O resultado foi o traçado de
fronteiras sem respeito algum às especificidades africanas e aos territórios de
grupos”, comenta a professora Juliana.
Outra característica fundamental
dessas sociedades é a mobilidade que também não foi respeitada. Fronteiras
territoriais não faziam o menor sentido para esses povos que estavam em
constante movimento e cujas redes sociais, econômicas e culturais se estendiam
por imenso território. Até hoje, em lugares como o Saara e o Sahel tais
fronteiras não existem na prática e as populações circulam livremente entre os
países, a despeito da existência das fronteiras estabelecidas nos mapas.
A consequência imediata do
retalhamento da continente pela Conferência de Berlim foi a separação de grupos
que tinha relações culturais entre si e, ao mesmo tempo, a imposição de uma
convivência obrigatória em um mesmo país de comunidades que, se não eram
rivais, também não compartilhavam laços culturais e religiosos.
Tal situação foi agravada pela
política de dominação europeia, pois não se tratava de colônias de povoamento e
ocupação de território, como aconteceu nas Américas no século 16. A política
dos países europeus foi a do domínio direto através de uma ocupação indireta,
com a presença de poucos colonos e do exército. Para garantir o governo desses
territórios, os poucos europeus que estavam no poder tinham que contar o com o
auxílio de africanos.
A tática era colocar uma minoria
étnica no poder. Por ser numericamente menor, esse grupo era mais fácil de
controlar. O resto da população era oprimida não tanto pelos europeus, que eram
poucos e se ocupavam com os cargos políticos mais importantes, mas pelas
minorias africanas em cargos públicos de menor escalão.
Criou-se também uma desigualdade
social que até então não existia na África. Os africanos que participavam do
governo tinham salários, o que não acontecia com os outros trabalhadores. Além
disso, também tinham acesso à educação européia, necessária para o exercício de
cargos burocráticos e, em alguns casos, até em nível superior, com a
possibilidade dos filhos irem estudar nas universidades na Europa. Os privilégios de poucos em relação à
maioria da população, acabaram por gerar uma rivalidade entre os dois grupos e
um sentimento de traição em relação aos africanos que se aliaram aos europeus e
se ocidentalizaram.
As independências africanas não
foram iguais, mas todas aconteceram com violência e muita relutância dos países
europeus em abandonarem suas possessões. A saída dos colonizadores, entretanto,
foi definitiva. “com eles foram embora os investimentos, principalmente nos
setores militar e econômico. Sem que sobreviesse nenhum legado para ajudar na
(re) construção dos países africanos
recém-nascidos,
os colonizadores deixaram para trás apenas uma herança de exploração, pobreza e
ódio”, explica a professora Juliana Mionzani.
O exemplo mais emblemático desse
legado foi o sistema do Apartheid na África do Sul. Nos demais países a divisão
racial em si não existiu como lei, mas aconteceu na prática numa condição mais
dolorosa ainda, na medida em que determinados grupos étnicos, em geral
minoritários, tiveram privilégios como educação aprimorada, em detrimento da
maioria constituída por etnia diferente que começaram a enxergar seus antigos
vizinhos ou parentes como inimigos.
A partilha da África no final do
século 19 interrompeu o processo muito variado de constituição de seus países
que vinha acontecendo desde a criação de califados islâmicos e que acabaram por
se transformar em alguns dos estados africanos. A ideia de um estado teocrático
islâmico fora do norte da África foi combatida pelos próprios africanos que
eram, ou cristãos, ou praticavam religiões tradicionais africanas.
Os europeus, então, aproveitaram
as disputas para se apoiarem na minoria cristã visando o estabelecimento de
seus governos coloniais, ignorando os africanos tradicionalistas e reprimindo os
islâmicos.
Isso se deu principalmente na
região chamada Sahel (faixa ao sul do Saara que vai da Guiné à Etiópia). O
resultado atual é o conflito aberto entre islâmicos e as minorias religiosas,
que pode gerar guerras, como aconteceu no Mali e na Nigéria, ou a separação
física, como aconteceu no Sudão.
No sul da África esse processo
de criação de estados africanos foi melhor resolvido, como foi o caso do Estado
Zulu (atual Zululândia), do início do século 19. “A união militar entre as
etnias Zulu, somada ao desenvolvimento interno de uma economia independente dos
europeus e até mesmo na fabricação própria de armas tornaram esses estados
fortes o bastante para resistirem aos avanços dos bôeres (holandeses) e
britânicos. Porém, não foram fortes o suficiente para promover a unificação com
outros grupos africanos, o que acabou gerando enclaves dentro de um estado
maior que até a própria África do Sul“, comenta a professora de História.
A dependência econômica que ajudou a
enriquecer a Europa enquanto mantinha a África em um estado de desenvolvimento
muito precário parece ser o ponto central do subdesenvolvimento do continente
até os dias de hoje.
Assim, os países africanos,
existentes ou criados, além da dependência tornaram-se fornecedores de
matérias-primas e, ao mesmo tempo, consumidores de produtos industrializados.
Por outro lado, os europeus não implantaram escolas superiores ou estimularam o
desenvolvimento industrial e tecnológico. O que eles trouxeram foi pouco e
desassociado da cultura local. Escolas de nível básico ensinavam línguas e a
história europeias deixando de lado as línguas, costumes e modos de vida
tradicionais.
Outros fatores contribuíram para a permanência
do subdesenvolvimento no continente: o cristianismo imposto perseguia as
religiões tradicionais e proibia suas práticas; o modelo de uma estrutura de
governo burocrática baseada na desigualdade e no poder de uma minoria com
controle total sobre a maioria criou uma desigualdade social e uma rivalidade
entre etnias sem precedentes; a ideia de um exército nacional e que funcionava
mais como polícia de repressão gerou o medo na população de reivindicar seus
direitos; a estrutural social patriarcal retirou das mulheres africanas seu
protagonismo econômico e social. Em muitas sociedades as mulheres eram
responsáveis pelo comércio local.
ATIVIDADES:
1.
Pesquise
o significado das palavras e conceitos abaixo:
1. Pertinente;
2.Estereótipo;
3.Ocidentalização;
4.Relutância;
5.Teocracia;
6.Emblemático;
7.Enclaves;
8.Precário;
9.Protagonismo.
10.Darwinismo social.
11.Detrimento.
12.Teocrático.
13.Enclaves.
1. Interpretando
o texto:
2.
Cite
as principais características do continente Africano indicadas no texto.
3.
Cite
as causas que, de maneira geral, provocam conflitos armados na África.
4.
Qual
o resultado do que ficou conhecido como “Partilha da África?”.
5.
Como
as fronteiras foram traçadas pelos europeus?
6.
O
que foi a “Conferência de Berlim”, e qual a consequência imediata do
retalhamento do continente africano?
7.
Qual
a política colocada em prática pelos europeus no século 19 em relação ao
continente africano e em que essa política diferia da do século 16?
8.
Qual
a tática de dominação usadas pelos europeus para controlar o povo?
9.
O
que foi, como funcionou e até quando durou o sistema do Apartheid na África do
Sul?
10.
Segundo
o texto, qual o ponto central do subdesenvolvimento do continente africano?
11.
Cite
outros fatores que, segundo o texto, contribuíram para a permanência do
subdesenvolvimento no continente africano após as guerras de independência e
consequente saída dos europeus.
3.
BIOGRAFIAS
1.Zumbi de
Palmares.
2. Mahatma Gandhi.
3.Grande Otelo.
4.Castro Alves.
5.Nelson Mandela.
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Respeito é palavra prática.