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DOSSIÊ DE HISTÓRIA - SEGUNDOS ANOS - TEXTO 04 - SEGUNDO SEMESTRE DE 2018.



ÁFRICA: MIL CULTURAS EM UM SÓ CONTINENTE
Fonte: Leituras da História nº 77 –Texto:  África, um continente em quarentena.

            Historiadores e cientistas políticos sentem dificuldades de explicar porque vários países africanos, mesmo depois de mais de um século da independência, ainda vivem em um estado de subdesenvolvimento, com áreas de extrema pobreza, sujeitos a epidemias e guerras civis.
                Não é possível generalizar e dar uma única resposta para todos, mas uma das principais características da África são as diferenças culturais, étnicas, religiosas e políticas entre seus países. “Há mais diversidade cultural e genética na África do que em todo resto do mundo”. O Ocidente, no entanto tende a fazer uma homogeneização reducionista e preconceituosa com relação à África e aos africanos. As ideias sobre o continente ainda são generalistas como “A África é selvagem, desolada pela fome, guerras e doenças”, diz Juliana Monzani, professora do curso de história da universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo.
                Esse posicionamento, de acordo com a professora, vem do Império Romano, estabelecido pela frase em latim ibi sunt leones (Lá há leões) usada para indicar regiões inexploradas no mapa. E tais concepções foram reforçadas pelo romantismo e pelas teorias raciais do século 19. Entretanto, ainda que esses questionamentos sejam pertinentes, essa postura só reforça preconceitos e estereótipos, enfatiza Juliana Monzani.
                Mas não há como negar que as questões étnicas e religiosas no continente africano, de uma forma geral, são as causas de conflitos armados. Estes, por sua vez, facilitam a instalação de mais fome e epidemia, em um ciclo vicioso perverso sem fim.
                Tais conflitos são, em grande parte, causados ou aprofundados pela presença dos colonizadores em território africano no século 19. Em 1885, ano da conferência de Berlim, os governantes europeus se reuniram para estabelecer o que ficou conhecido como partilha da África. “A divisão de terras gerou a criação de países arbitrários, sem nenhum governante africano na conferência para opinar. O resultado foi o traçado de fronteiras sem respeito algum às especificidades africanas e aos territórios de grupos”, comenta a professora Juliana.
                Outra característica fundamental dessas sociedades é a mobilidade que também não foi respeitada. Fronteiras territoriais não faziam o menor sentido para esses povos que estavam em constante movimento e cujas redes sociais, econômicas e culturais se estendiam por imenso território. Até hoje, em lugares como o Saara e o Sahel tais fronteiras não existem na prática e as populações circulam livremente entre os países, a despeito da existência das fronteiras estabelecidas nos mapas.
                A consequência imediata do retalhamento da continente pela Conferência de Berlim foi a separação de grupos que tinha relações culturais entre si e, ao mesmo tempo, a imposição de uma convivência obrigatória em um mesmo país de comunidades que, se não eram rivais, também não compartilhavam laços culturais e religiosos.
                Tal situação foi agravada pela política de dominação europeia, pois não se tratava de colônias de povoamento e ocupação de território, como aconteceu nas Américas no século 16. A política dos países europeus foi a do domínio direto através de uma ocupação indireta, com a presença de poucos colonos e do exército. Para garantir o governo desses territórios, os poucos europeus que estavam no poder tinham que contar o com o auxílio de africanos.
                A tática era colocar uma minoria étnica no poder. Por ser numericamente menor, esse grupo era mais fácil de controlar. O resto da população era oprimida não tanto pelos europeus, que eram poucos e se ocupavam com os cargos políticos mais importantes, mas pelas minorias africanas em cargos públicos de menor escalão.
                Criou-se também uma desigualdade social que até então não existia na África. Os africanos que participavam do governo tinham salários, o que não acontecia com os outros trabalhadores. Além disso, também tinham acesso à educação européia, necessária para o exercício de cargos burocráticos e, em alguns casos, até em nível superior, com a possibilidade dos filhos irem estudar nas universidades na  Europa. Os privilégios de poucos em relação à maioria da população, acabaram por gerar uma rivalidade entre os dois grupos e um sentimento de traição em relação aos africanos que se aliaram aos europeus e se ocidentalizaram.
                As independências africanas não foram iguais, mas todas aconteceram com violência e muita relutância dos países europeus em abandonarem suas possessões. A saída dos colonizadores, entretanto, foi definitiva. “com eles foram embora os investimentos, principalmente nos setores militar e econômico. Sem que sobreviesse nenhum legado para ajudar na (re) construção dos países africanos

recém-nascidos, os colonizadores deixaram para trás apenas uma herança de exploração, pobreza e ódio”, explica a professora Juliana Mionzani.
                O exemplo mais emblemático desse legado foi o sistema do Apartheid na África do Sul. Nos demais países a divisão racial em si não existiu como lei, mas aconteceu na prática numa condição mais dolorosa ainda, na medida em que determinados grupos étnicos, em geral minoritários, tiveram privilégios como educação aprimorada, em detrimento da maioria constituída por etnia diferente que começaram a enxergar seus antigos vizinhos ou parentes como inimigos.
                A partilha da África no final do século 19 interrompeu o processo muito variado de constituição de seus países que vinha acontecendo desde a criação de califados islâmicos e que acabaram por se transformar em alguns dos estados africanos. A ideia de um estado teocrático islâmico fora do norte da África foi combatida pelos próprios africanos que eram, ou cristãos, ou praticavam religiões tradicionais africanas.
                Os europeus, então, aproveitaram as disputas para se apoiarem na minoria cristã visando o estabelecimento de seus governos coloniais, ignorando os africanos tradicionalistas e reprimindo os islâmicos.
                Isso se deu principalmente na região chamada Sahel (faixa ao sul do Saara que vai da Guiné à Etiópia). O resultado atual é o conflito aberto entre islâmicos e as minorias religiosas, que pode gerar guerras, como aconteceu no Mali e na Nigéria, ou a separação física, como aconteceu no Sudão.
                No sul da África esse processo de criação de estados africanos foi melhor resolvido, como foi o caso do Estado Zulu (atual Zululândia), do início do século 19. “A união militar entre as etnias Zulu, somada ao desenvolvimento interno de uma economia independente dos europeus e até mesmo na fabricação própria de armas tornaram esses estados fortes o bastante para resistirem aos avanços dos bôeres (holandeses) e britânicos. Porém, não foram fortes o suficiente para promover a unificação com outros grupos africanos, o que acabou gerando enclaves dentro de um estado maior que até a própria África do Sul“, comenta a professora de História.
                 A dependência econômica que ajudou a enriquecer a Europa enquanto mantinha a África em um estado de desenvolvimento muito precário parece ser o ponto central do subdesenvolvimento do continente até os dias de hoje.
                Assim, os países africanos, existentes ou criados, além da dependência tornaram-se fornecedores de matérias-primas e, ao mesmo tempo, consumidores de produtos industrializados. Por outro lado, os europeus não implantaram escolas superiores ou estimularam o desenvolvimento industrial e tecnológico. O que eles trouxeram foi pouco e desassociado da cultura local. Escolas de nível básico ensinavam línguas e a história europeias deixando de lado as línguas, costumes e modos de vida tradicionais.
 Outros fatores contribuíram para a permanência do subdesenvolvimento no continente: o cristianismo imposto perseguia as religiões tradicionais e proibia suas práticas; o modelo de uma estrutura de governo burocrática baseada na desigualdade e no poder de uma minoria com controle total sobre a maioria criou uma desigualdade social e uma rivalidade entre etnias sem precedentes; a ideia de um exército nacional e que funcionava mais como polícia de repressão gerou o medo na população de reivindicar seus direitos; a estrutural social patriarcal retirou das mulheres africanas seu protagonismo econômico e social. Em muitas sociedades as mulheres eram responsáveis pelo comércio local.

                ATIVIDADES:

1.       Pesquise o significado das palavras e conceitos abaixo:
1. Pertinente;
2.Estereótipo;
3.Ocidentalização;
4.Relutância;
5.Teocracia;
6.Emblemático;
7.Enclaves;
8.Precário;
9.Protagonismo.
10.Darwinismo social.
11.Detrimento.
12.Teocrático.
13.Enclaves.


1. Interpretando o texto:
2.       Cite as principais características do continente Africano indicadas no texto.
3.       Cite as causas que, de maneira geral, provocam conflitos armados na África.
4.       Qual o resultado do que ficou conhecido como “Partilha da África?”.
5.       Como as fronteiras foram traçadas pelos europeus?
6.       O que foi a “Conferência de Berlim”, e qual a consequência imediata do retalhamento do continente africano?
7.       Qual a política colocada em prática pelos europeus no século 19 em relação ao continente africano e em que essa política diferia da do século 16?
8.       Qual a tática de dominação usadas pelos europeus para controlar o povo?
9.       O que foi, como funcionou e até quando durou o sistema do Apartheid na África do Sul?
10.    Segundo o texto, qual o ponto central do subdesenvolvimento do continente africano?
11.    Cite outros fatores que, segundo o texto, contribuíram para a permanência do subdesenvolvimento no continente africano após as guerras de independência e consequente saída dos europeus.

3. BIOGRAFIAS
1.Zumbi de Palmares.
2. Mahatma Gandhi.
3.Grande Otelo.
4.Castro Alves.
5.Nelson Mandela.





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